Oito da manhã. As pessoas saem do comboio apressadas, colocam-se em fila para passar nas portas automáticas.
A manhã está cinzenta, chove. As caras estão fechadas, talvez ainda a dormir ou em modo automato. Seguem para mais um dia de trabalho.
Na entrada do metro uma senhora com perto de 50 anos, uma bengala na mão. Parece perdida. Aborda uma jovem. Pede-lhe que a ajude a passar na cancela. O cartão não funciona mas hoje vai ter o passe a funcionar. A jovem recusa. A senhora deambula. Aflige-se.
Pergunto se precisa de ajuda. É cega. Sim por favor, para passar na porta automática.
Ajudo. Ajudo também a descer a escada. A meio ela desequilibra-se. Felizmente a amparo.
Desculpa-se. Ficou nervosa com a situação de não conseguir passar e confessa que apenas perdeu a visão à 16 meses.
Ainda não está bem habituada à situação. Mas fala do tema sem pesar, sem mágoa, como um facto consumado.
Ajudo-a a entrar no metro e a sentar-se. Acabo por me sentar ao seu lado.
Vai falando, conta-me como perdeu a visão e como está a readaptar-se para voltar ao trabalho. Ia a caminho do curso que a vai ajudar a voltar à vida activa e a poder retomar o seu trabalho.
Não é de Lisboa mas para ela não é um problema. Tudo é uma aprendizagem, tudo parece fazer parte de uma grande aventura.
Fala-me da sua filha, da sua terra, das paisagens bonitas. Talvez recorde aquilo que já não poderá mais ver e talvez isso ainda amplie mais as cores, a beleza da sua recordação.
No meio da correria, da rotina, das centenas de caras com que nos cruzamos nos transportes, cada um com os seus pensamentos, com a sua música, os seus livros, na frieza da cidade, um ser acaba por destacar-se.
Pergunto se foi fácil adaptar-se ao facto de ter deixado de ver.
A resposta pronta e com um sorriso. Depois de ter estado às portas da morte, ter sobrevivido apenas com esta situação e poder continuar a viver apesar da cegueira irreversível, poder acompanhar a sua filha, poder continuar a trabalhar e até visitar Lisboa. Sim, esta é a parte mais fácil.
Tive de sair na minha paragem mas não resisti a dizer-lhe o quanto a sua história e o seu exemplo tinham sido inspiradores.
Numa manhã cinzenta, nada como um raio de luz para iluminar e inspirar o dia.
A manhã está cinzenta, chove. As caras estão fechadas, talvez ainda a dormir ou em modo automato. Seguem para mais um dia de trabalho.
Na entrada do metro uma senhora com perto de 50 anos, uma bengala na mão. Parece perdida. Aborda uma jovem. Pede-lhe que a ajude a passar na cancela. O cartão não funciona mas hoje vai ter o passe a funcionar. A jovem recusa. A senhora deambula. Aflige-se.
Pergunto se precisa de ajuda. É cega. Sim por favor, para passar na porta automática.
Ajudo. Ajudo também a descer a escada. A meio ela desequilibra-se. Felizmente a amparo.
Desculpa-se. Ficou nervosa com a situação de não conseguir passar e confessa que apenas perdeu a visão à 16 meses.
Ainda não está bem habituada à situação. Mas fala do tema sem pesar, sem mágoa, como um facto consumado.
Ajudo-a a entrar no metro e a sentar-se. Acabo por me sentar ao seu lado.
Vai falando, conta-me como perdeu a visão e como está a readaptar-se para voltar ao trabalho. Ia a caminho do curso que a vai ajudar a voltar à vida activa e a poder retomar o seu trabalho.
Não é de Lisboa mas para ela não é um problema. Tudo é uma aprendizagem, tudo parece fazer parte de uma grande aventura.
Fala-me da sua filha, da sua terra, das paisagens bonitas. Talvez recorde aquilo que já não poderá mais ver e talvez isso ainda amplie mais as cores, a beleza da sua recordação.
No meio da correria, da rotina, das centenas de caras com que nos cruzamos nos transportes, cada um com os seus pensamentos, com a sua música, os seus livros, na frieza da cidade, um ser acaba por destacar-se.
Pergunto se foi fácil adaptar-se ao facto de ter deixado de ver.
A resposta pronta e com um sorriso. Depois de ter estado às portas da morte, ter sobrevivido apenas com esta situação e poder continuar a viver apesar da cegueira irreversível, poder acompanhar a sua filha, poder continuar a trabalhar e até visitar Lisboa. Sim, esta é a parte mais fácil.
Tive de sair na minha paragem mas não resisti a dizer-lhe o quanto a sua história e o seu exemplo tinham sido inspiradores.
Numa manhã cinzenta, nada como um raio de luz para iluminar e inspirar o dia.
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