São 8h30 e chego ao Centro de Saúde da minha área de residência. A minha consulta "obrigatória" estava marcada para essa hora.
Sou obrigada a vir a esta consulta porque caso contrário perco o médico de família que tenho, dado que já passou muito tempo desde que cá vim pela última vez e foram precisos 2 meses de espera por ter esta consulta. Ainda nem sequer tinha ido ao novo centro de Saúde agora localizado no meio de um bairro habitacional que deixou de ser calmo e para o qual nem se conhece bem o meio de transporte que ali nos pode levar.
-A Dra. está atrasada- informa-me a funcionária.
-Muito bem e quantas pessoas tenho antes de mim? - pergunto para calcular a demora.
- Tem 3 pessoas - diz.
- 3 pessoas? Mas a que horas é que as consultas começam? Pergunto eu admirada pelo nº de pessoas.
- Começam às 8h- explica a funcionária
- Mas então como é que podem ter 3 consultas em 30 minutos? - insisto.
- São 12 minutos cada consulta minha Senhora. Ordens do Sr. Ministro- responde a funcionária.
Ri-me. Se dessem 12 minutos ao Vitor Gaspar para anunciar as medidas de austeridades, ele não passava do boa tarde e assim não conheceríamos as tais medidas.
Para uma pessoa idosa com dificuldade de locomoção só para chegar ao consultório já passaram 6 minutos, para se despir os outros 6 e lá se foi a consulta...
Continuando.
Espero. São 9h40 e ainda não fui chamada. Quando chamam as pessoas, o som do altifalante é muito mau e mal se percebe o que dizem. Talvez por isso tenham instalado um ecrã onde aparece escrito o nome do utente e o gabinete onde se deve dirigir mas infelizmente mesmo no centro do ecrã está aquele famoso erro da Microsoft: Deu erro quer enviar ?Ou não e é preciso escolher a opção para aquilo sair dali. Como ninguém escolhe a tal mensagem está por cima da informação que iria ajudar caso o altifalante não se perceba. Resta-me apurar o ouvido.
Lá sou chamada.
Felizmente fiz-me acompanhar de todos os últimos exames que tinha feito.
A Médica passa os primeiros 5 minutos a registar no computador os resultados dos exames.
Pergunto para quê se fui eu que os paguei sem compartipação, foram passados por um médico particular pago inteiramente por mim e agora sou obrigada a ir ao médico de família mostrar esses mesmos exames para serem inscritos na minha ficha médica?!? Mais uma vez a resposta: Ordens do Sr. Ministro.
A seguir em 5 minutos ausculta-me, pesa-me, mede-me a tensão arterial e apalpa-me a barriga.
Os restantes minutos são passados à espera que a médica encontre no computador as análises que me quer mandar fazer. Algumas como não encontra, decide passar à mão, na velha credencial verde mas desenganem-se se isso parece ter sido fácil. Não, para passar um exame à mão é preciso justificar e há uma portaria própria a colocar no impresso que por sinal tem vindo a mudar e minutos preciosos de consulta são passados em busca do papel onde consta a famosa portaria que é preciso inscrever para ser aceite.
A médica vira-se para mim depois concluir este processo e diz- Olhe agora temos de terminar, desculpe lá o atraso, faça as análises e venha cá mostrar.
São 10h05 da manhã. Vou perder 2 horas de trabalho para ter 12 minutos de consulta que nem precisava.
São contabilizados os minutos de consulta mas não é contabilizado o tempo de atraso e o tempo que o utente perde para cumprir com uma "obrigação" para não perder algo para o qual paga para na eventualidade de futura vir a precisar de algum acompanhamento que passe obrigatóriamente pelo centro de saúde e médico de família.
Tento marcar nova consulta e só daqui a 2 meses. Ainda bem que não é nada de grave.
Uma senhora queixa-se. Precisa de uma urgência mas só vai ser atendida ao 12h. Queixa-se, diz-se triste por este método de funcionamento.
Agora para irmos ao médico temos de desenvolver capacidade de síntese pois temos de ser capazes de falar sobre os nossos males em 6 minutos pois o resto da consulta é para registo em computador. Mais valia que gravassem as consultas e depois do paciente sair iam registar o que tinham de registar!
O que é mais chocante é que é evidente que não conseguem desde logo cumprir com esse horário. Logo estão a pedir às pessoas que se desloquem ao Centro de Saúde a uma determinada hora, fiquem lá è espera, não cumprindo com o horário combinado, demonstrando uma profunda falta de respeito para com as pessoas ao achar-se no direito de mandar na forma como as pessoas ocupam o seu tempo, só para cumprir uma meta que todos sabem ser quase impossível de cumprir.
Convenhamos que eu não vou ao médico para fazer uma transação bancária, que entrego um cheque para depositar e dão-me um talão. É algo mais sério do que isso. Mas não para o Sr. Ministro. Pago uma taxa e ainda me sujeito ao tempo que entendem dar-me o obséquio da sua atenção.
E já nem menciono o profundo disparate que foi o processo de retirada de isenção das taxas moderadoras. Não há um organismo que saiba em concreto a quem o utente se deve dirigir para esclarecer porque ficou sem isenção. Do Centro de Saúde empurram para as Finanças que por sua vez fazem o mesmo para o Centro de Saúde.
Enquanto isso, anda uma pessoa de um lado para o outro, a pagar taxas, a pagar transportes, a trazer documentos, a perder tempo e depois não se percebe porque o país não é produtivo.
Estas orientações do tempo de consulta com vista à eficiência faz-me lembrar a retirada de certos feriados nacionais com vista ao aumento de produtividade quando o verdadeiro motivo, a verdadeira pedra na engrenagem está por retirar e chama-se Estado e os seus múltiplos serviços mais empenhados em burocracia do que em servir os cidadãos.
Sou obrigada a vir a esta consulta porque caso contrário perco o médico de família que tenho, dado que já passou muito tempo desde que cá vim pela última vez e foram precisos 2 meses de espera por ter esta consulta. Ainda nem sequer tinha ido ao novo centro de Saúde agora localizado no meio de um bairro habitacional que deixou de ser calmo e para o qual nem se conhece bem o meio de transporte que ali nos pode levar.
-A Dra. está atrasada- informa-me a funcionária.
-Muito bem e quantas pessoas tenho antes de mim? - pergunto para calcular a demora.
- Tem 3 pessoas - diz.
- 3 pessoas? Mas a que horas é que as consultas começam? Pergunto eu admirada pelo nº de pessoas.
- Começam às 8h- explica a funcionária
- Mas então como é que podem ter 3 consultas em 30 minutos? - insisto.
- São 12 minutos cada consulta minha Senhora. Ordens do Sr. Ministro- responde a funcionária.
Ri-me. Se dessem 12 minutos ao Vitor Gaspar para anunciar as medidas de austeridades, ele não passava do boa tarde e assim não conheceríamos as tais medidas.
Para uma pessoa idosa com dificuldade de locomoção só para chegar ao consultório já passaram 6 minutos, para se despir os outros 6 e lá se foi a consulta...
Continuando.
Espero. São 9h40 e ainda não fui chamada. Quando chamam as pessoas, o som do altifalante é muito mau e mal se percebe o que dizem. Talvez por isso tenham instalado um ecrã onde aparece escrito o nome do utente e o gabinete onde se deve dirigir mas infelizmente mesmo no centro do ecrã está aquele famoso erro da Microsoft: Deu erro quer enviar ?Ou não e é preciso escolher a opção para aquilo sair dali. Como ninguém escolhe a tal mensagem está por cima da informação que iria ajudar caso o altifalante não se perceba. Resta-me apurar o ouvido.
Lá sou chamada.
Felizmente fiz-me acompanhar de todos os últimos exames que tinha feito.
A Médica passa os primeiros 5 minutos a registar no computador os resultados dos exames.
Pergunto para quê se fui eu que os paguei sem compartipação, foram passados por um médico particular pago inteiramente por mim e agora sou obrigada a ir ao médico de família mostrar esses mesmos exames para serem inscritos na minha ficha médica?!? Mais uma vez a resposta: Ordens do Sr. Ministro.
A seguir em 5 minutos ausculta-me, pesa-me, mede-me a tensão arterial e apalpa-me a barriga.
Os restantes minutos são passados à espera que a médica encontre no computador as análises que me quer mandar fazer. Algumas como não encontra, decide passar à mão, na velha credencial verde mas desenganem-se se isso parece ter sido fácil. Não, para passar um exame à mão é preciso justificar e há uma portaria própria a colocar no impresso que por sinal tem vindo a mudar e minutos preciosos de consulta são passados em busca do papel onde consta a famosa portaria que é preciso inscrever para ser aceite.
A médica vira-se para mim depois concluir este processo e diz- Olhe agora temos de terminar, desculpe lá o atraso, faça as análises e venha cá mostrar.
São 10h05 da manhã. Vou perder 2 horas de trabalho para ter 12 minutos de consulta que nem precisava.
São contabilizados os minutos de consulta mas não é contabilizado o tempo de atraso e o tempo que o utente perde para cumprir com uma "obrigação" para não perder algo para o qual paga para na eventualidade de futura vir a precisar de algum acompanhamento que passe obrigatóriamente pelo centro de saúde e médico de família.
Tento marcar nova consulta e só daqui a 2 meses. Ainda bem que não é nada de grave.
Uma senhora queixa-se. Precisa de uma urgência mas só vai ser atendida ao 12h. Queixa-se, diz-se triste por este método de funcionamento.
Agora para irmos ao médico temos de desenvolver capacidade de síntese pois temos de ser capazes de falar sobre os nossos males em 6 minutos pois o resto da consulta é para registo em computador. Mais valia que gravassem as consultas e depois do paciente sair iam registar o que tinham de registar!
O que é mais chocante é que é evidente que não conseguem desde logo cumprir com esse horário. Logo estão a pedir às pessoas que se desloquem ao Centro de Saúde a uma determinada hora, fiquem lá è espera, não cumprindo com o horário combinado, demonstrando uma profunda falta de respeito para com as pessoas ao achar-se no direito de mandar na forma como as pessoas ocupam o seu tempo, só para cumprir uma meta que todos sabem ser quase impossível de cumprir.
Convenhamos que eu não vou ao médico para fazer uma transação bancária, que entrego um cheque para depositar e dão-me um talão. É algo mais sério do que isso. Mas não para o Sr. Ministro. Pago uma taxa e ainda me sujeito ao tempo que entendem dar-me o obséquio da sua atenção.
E já nem menciono o profundo disparate que foi o processo de retirada de isenção das taxas moderadoras. Não há um organismo que saiba em concreto a quem o utente se deve dirigir para esclarecer porque ficou sem isenção. Do Centro de Saúde empurram para as Finanças que por sua vez fazem o mesmo para o Centro de Saúde.
Enquanto isso, anda uma pessoa de um lado para o outro, a pagar taxas, a pagar transportes, a trazer documentos, a perder tempo e depois não se percebe porque o país não é produtivo.
Estas orientações do tempo de consulta com vista à eficiência faz-me lembrar a retirada de certos feriados nacionais com vista ao aumento de produtividade quando o verdadeiro motivo, a verdadeira pedra na engrenagem está por retirar e chama-se Estado e os seus múltiplos serviços mais empenhados em burocracia do que em servir os cidadãos.
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