Avançar para o conteúdo principal

Carta ao Sr. Presidente

Sr. Presidente Cavaco Silva,

Ouvi o seu discurso no dia 5 de Outubro de 2011 cheio de palavras bonitas e boas intenções.
Sim, é verdade o país atravessa uma situação muito delicada mas acho interessante essa noção de que todos temos de fazer sacrificios e os politicos dar o exemplo.
Só agora é que os politicos devem dar o exemplo? Não foi pelo facto de nunca o terem feito, incluindo o Sr. Presidente, que estamos nesta situação?
Diga-nos a nós portugueses sacrificados que exemplos pretende o Sr. dar?
Quando fechou os olhos ao déficit da Madeira e foi lá diversas vezes ao "beija mão" de votos para ser eleito e reeleito mesmo quando o Sr. Jardim o insultava publicamente?
Quando recebeu os fundos da União Europeia enquanto 1º ministro e que não fez qualquer controlo de como o dinheiro era aplicado? Quando duplicou o nº de funcionários públicos? Quando condenou a agricultura e as pescas?
Ou até mesmo quando recebeu os juros exorbitantes do BPN que os cidadãos tiveram que resgatar com o dinheiro dos seus impostos?
São estes os exemplos de que fala?
Que sacrificios já fez o Sr. pelo país? Ah é verdade criticou o governo anterior mas sendo o Sr. economista tinha a obrigação de ter estado mais alerta em vez de andar preocupado com histórias de espionagem, interrompendo o país para falar de vozes e escutas.
Condecora jogadores de futebol mas nem se digna a participar no funeral de um dos símbolos da nossa cultura.
São estes os exemplos que quer que sigamos? É assim que nos vem exigir sacrifícios?
Eu cidadão trabalho mais de 40 horas por semana, sim, já o faço mesmo sem lei, pago os meus impostos, imi's e afins, quase não uso o sistema nacional de saúde porque não é compatível com a urgência nem com o sector produtivo deste país, acabando por ir para o sistema privado, a única coisa a credito que adquiri foi a casa e mesmo essa já está quase paga, faço poupanças, fiz amortizações, não compro carros novos e tenho o mesmo à 10 anos.
Faço donativos, não tenho telemoveis novos há anos.
Diga-me porque exactamente eu sou sacrificado? Fui eu que permiti com a minha actuação que chegássemos até aqui? Como eu outros tantos cidadãos e no entanto aqui estamos, neste ponto baixo e medíocre que os politicos colocaram o país para poder prover aos seus interesses e aos interesses das grandes fortunas.
Quer dar o exemplo, pois então devia ser responsabilizado tal como os outros governantes pela situação a que Portugal chegou. O Sr. é tão responsável como qualquer outro. Devolva os juros que ganhou no BPN e que foram casos desses que levaram à falência e ao resgate pelos cidadãos deste Banco.
Quer dar o exemplo, prescinda da sua pensão milionária, ou melhor pensões e tente viver com os 1000 er por mês ou mesmo com o salário minímo, compre menos vestidos à sua esposa para andar a passear. Estamos em crise, então deve ser para todos.
É fácil falar mas quando teve oportunidade que fez o Sr. para evitar que aqui chegássemos? Gastou e viveu acima das possibilidades do país, tal como todos os outros.
O Sr. nem sequer foi eleito pela maioria dos portugueses e isso deveria querer dizer alguma coisa, mas infelizmente os politicos gostam de ignorar esse importante factor e agem como se tivessem os votos de 100% dos eleitores.
Enquanto tivermos no poder politicos como o Sr. que pedem sacrifícios mas não os aplicam a si mesmo esse principio, de nada vale vir fazer este tipo de discursos.
Comece antes por agir e dar efectivamente o exemplo.
Palavras leva-as o vento. São acções concretas que precisamos, acções que realmente tenham como objectivo melhorar, não para manter o status quo.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Que Estado Quero Eu

Os nossos governantes há mais de um ano que andam numa grande azáfama para combater o défice que não pára de aumentar, a tentar encontrar receitas onde já há poucas e a cortar pouco na despesa. Pensariamos nós que seria de começar ao contrário, pelo menos é o que fazemos na nossa economia doméstica mas aparentemente não é assim. Mas ainda não perguntaram ao cidadão, aquele que afinal paga as contas, de que maneira o que realmente deve o Estado fazer. Nem mesmo a oposição, que não tem ideias podia ao menos consultar os seus eleitores já que não tem dinheiro para contratar consultores e trabalham todos por amor à camisola. Pois bem, que quero eu, simples cidadão, do Estado que supostamente gere a minha vida e toma decisões que a afectam? Gostaria que fosse menos complexo e mais focado no que é a sua razão de ser. Que todos os ministérios e funcionários públicos se lembrassem que estão a prestar um serviço ao cidadão, com o dinheiro do cidadão por isso não só deve ter um bom serviço,

Um dia do Trabalhador

Muitos foram aqueles que sendo feriado, trabalharam hoje. Muitos mais foram aqueles que mesmo sendo feriado teriam apreciado ter trabalhado pois significaria que pelo menos tinham trabalho. Muito menos terão sido aqueles que apreciaram ser feriado e não terem ido trabalhar. Assim se passa um feriado que nasceu de reinvidicações que tinham como objectivo reduzir a jornada de trabalho. Hoje com cerca de 17% de desemprego em Portugal, a reinvidicação centra-se no apelo à criação de emprego. Hoje, apesar de toda a evolução tecnológica que tomou conta da produção, dos serviços, trabalha-se mais horas, recebe-se menos salário, a precaridade é elevada tendo em conta os tempos que vivemos. Não parece que se passaram 127 anos que se iniciou o movimento 1º de Maio. Era suposto termos construído algo para o futuro mas em vez disso parece que estamos a voltar ao ponto de partida. A Europa transformou-se numa praça financeira, delegando em países mais pobres a produção de bens, países esses

Um dia Inspirador

Oito da manhã. As pessoas saem do comboio apressadas, colocam-se em fila para passar nas portas automáticas. A manhã está cinzenta, chove. As caras estão fechadas, talvez ainda a dormir ou em modo automato. Seguem para mais um dia de trabalho. Na entrada do metro uma senhora com perto de 50 anos, uma bengala na mão. Parece perdida. Aborda uma jovem. Pede-lhe que a ajude a passar na cancela. O cartão não funciona mas hoje vai ter o passe a funcionar. A jovem recusa. A senhora deambula. Aflige-se. Pergunto se precisa de ajuda. É cega. Sim por favor, para passar na porta automática. Ajudo. Ajudo também a descer a escada. A meio ela desequilibra-se. Felizmente a amparo. Desculpa-se. Ficou nervosa com a situação de não conseguir passar e confessa que apenas perdeu a visão à 16 meses. Ainda não está bem habituada à situação. Mas fala do tema sem pesar, sem mágoa, como um facto consumado. Ajudo-a a entrar no metro e a sentar-se. Acabo por me sentar ao seu lado. Vai falando, conta-me