São 7h 30 da manhã. Vou de comboio a caminho do trabalho. Leio.
Em Algés entra um mendigo. Percebo pelas minhas vizinhas do lado que este mendigo já é um habitué mas eu confesso que é a primeira vez que me apercebo dele.
Lá atrás oiço o senhor a falar. Parece estar a contar anedotas. As minhas vizinhas continuam a lamentar haver este tipo de pessoas e terem de pedir. Parece que o senhor revela algum atraso mental.
Chega ao pé de mim. Os olhos tortos, os dentes ainda mais tortos, obeso, as roupas não totalmente sujas mas rasgadas.
Olha para mim e faz-me uma pergunta. Qual é o animal que faz amor consigo próprio? Não sei responder. Responde: o pato que faz amor com as patas.
Passa à minha vizinha. Qual é a situação em que as mulheres sabem sempre onde estão os seus maridos? Esta a minha vizinha sabe responder: quando são viúvas. Ele riu-se. Ela também. Já o tinha encontrado em viagens anteriores e já conhecia esta adivinha. Segundo ela, ele usa sempre as mesmas. Ele segue carruagem fora interpelando várias pessoas com diferentes adivinhas. Alguns acedem a responder. Outros ignoram.
Estamos quase a chegar ao Cais do Sodré. As pessoas começam a levantar-se. O mendigo pede agora alguma ajuda, uma esmola. Fez rir com as suas adivinhas, espera que o ajudem.
Passa por mim para ir para mais próximo da porta, dou-lhe dinheiro. Pergunta-me se não há problema. Respondo que não.
Fica ao pé da passagem para a porta para receber mais alguma esmola daqueles que ainda não lhe deram.
Saio da carruagem e penso que este tipo de adivinha é mesmo o tipo de coisa que a minha avó ia gostar de ouvir pois fá-la rir.
À noite telefono à minha avó, conto-lhe as adivinhas e como esperado, ela ri-se.
As lágrimas afloram aos olhos.
Dei um euro ao mendigo, espero tê-lo ajudado de alguma forma mas aquilo que ele me deu vale muito mais que esse valor. Fiz a minha avó rir e ela nem sequer imagina como essas adivinhas chegaram até mim.
Valeu a pena este encontro matinal. Oxalá eu pudesse ter feito a diferença na vida deste ser humano que pelas vissicitudes da vida não teve talvez outras opções de vida. A mim possibilitou-me dar alegria a uma pessoa que me é querida. Não é preciso muito para se apreciar as alegrias que atravessam o nosso caminho.
Em Algés entra um mendigo. Percebo pelas minhas vizinhas do lado que este mendigo já é um habitué mas eu confesso que é a primeira vez que me apercebo dele.
Lá atrás oiço o senhor a falar. Parece estar a contar anedotas. As minhas vizinhas continuam a lamentar haver este tipo de pessoas e terem de pedir. Parece que o senhor revela algum atraso mental.
Chega ao pé de mim. Os olhos tortos, os dentes ainda mais tortos, obeso, as roupas não totalmente sujas mas rasgadas.
Olha para mim e faz-me uma pergunta. Qual é o animal que faz amor consigo próprio? Não sei responder. Responde: o pato que faz amor com as patas.
Passa à minha vizinha. Qual é a situação em que as mulheres sabem sempre onde estão os seus maridos? Esta a minha vizinha sabe responder: quando são viúvas. Ele riu-se. Ela também. Já o tinha encontrado em viagens anteriores e já conhecia esta adivinha. Segundo ela, ele usa sempre as mesmas. Ele segue carruagem fora interpelando várias pessoas com diferentes adivinhas. Alguns acedem a responder. Outros ignoram.
Estamos quase a chegar ao Cais do Sodré. As pessoas começam a levantar-se. O mendigo pede agora alguma ajuda, uma esmola. Fez rir com as suas adivinhas, espera que o ajudem.
Passa por mim para ir para mais próximo da porta, dou-lhe dinheiro. Pergunta-me se não há problema. Respondo que não.
Fica ao pé da passagem para a porta para receber mais alguma esmola daqueles que ainda não lhe deram.
Saio da carruagem e penso que este tipo de adivinha é mesmo o tipo de coisa que a minha avó ia gostar de ouvir pois fá-la rir.
À noite telefono à minha avó, conto-lhe as adivinhas e como esperado, ela ri-se.
As lágrimas afloram aos olhos.
Dei um euro ao mendigo, espero tê-lo ajudado de alguma forma mas aquilo que ele me deu vale muito mais que esse valor. Fiz a minha avó rir e ela nem sequer imagina como essas adivinhas chegaram até mim.
Valeu a pena este encontro matinal. Oxalá eu pudesse ter feito a diferença na vida deste ser humano que pelas vissicitudes da vida não teve talvez outras opções de vida. A mim possibilitou-me dar alegria a uma pessoa que me é querida. Não é preciso muito para se apreciar as alegrias que atravessam o nosso caminho.
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